Astrônomos detectam anã branca que 'engoliu' mundo gelado parecido com Plutão
Imagem mostra estágio inicial de um corpo gelado sendo dilacerado pela intensa gravidade de uma anã branca Snehalata Sahu/University of Warwick/via Reuters A ...

Imagem mostra estágio inicial de um corpo gelado sendo dilacerado pela intensa gravidade de uma anã branca Snehalata Sahu/University of Warwick/via Reuters A partir do telescópio espacial Hubble, astrônomos observaram uma anã branca — um tipo de estrela altamente compacta — que teria "engolido" um corpo gelado semelhante a Plutão. A descoberta pode trazer pistas sobre a existência de planetas habitáveis fora do Sistema Solar (leia mais abaixo). A anã branca está localizada na Via Láctea, a cerca de 255 anos-luz da Terra (um ano-luz corresponde à distância percorrida pela luz em um ano: 9,5 trilhões de km). Ela é o resquício de uma estrela que tinha cerca de 50% mais massa que o Sol. Hoje, em sua forma compacta, mede aproximadamente o diâmetro da Terra, embora seja cerca de 190 mil vezes mais massiva que o nosso planeta. ⭐Qual a origem das anãs brancas? Elas são remanescentes de estrelas que queimaram todo o hidrogênio usado como combustível. Depois de se expandirem na fase de “gigante vermelha” e perderem suas camadas externas, transformam-se nesses núcleos compactos. O Sol, segundo cientistas, deve terminar sua vida dessa forma — mas só daqui a bilhões de anos. Evidências químicas Pesquisas anteriores já mostraram que anãs brancas podem, graças à forte gravidade, engolir corpos rochosos como planetas, luas e asteroides. Os cientistas identificam isso pela composição química encontrada em sua superfície. Neste caso, porém, a assinatura química revelou que o objeto consumido não era rochoso, mas gelado. A suspeita é que a gravidade da estrela tenha despedaçado um mundo parecido com Plutão, cujos fragmentos acabaram sendo atraídos em direção a ela. “A anã branca provavelmente engoliu fragmentos da crosta e do manto de um mundo gelado semelhante a Plutão”, disse Snehalata Sahu, pesquisadora de pós-doutorado em astrofísica na Universidade de Warwick, na Inglaterra, autora principal do estudo publicado neste mês no Monthly Notices of the Royal Astronomical Society. Segundo o coautor Boris Gänsicke, também da Universidade de Warwick, mesmo que não fosse um Plutão inteiro, poderia ser um pedaço arrancado após colisão com outro corpo. Uma vez suficientemente perto da anã branca, a gravidade distorceu o objeto até que ele se partisse e se desintegrasse. Nitrogênio em destaque A equipe descartou que seja um cometa (outro tipo de corpo gelado), por causa da composição química detectada. “A evidência principal vem da alta abundância de nitrogênio, muito maior do que a encontrada em material cometário típico e compatível com os gelos ricos em nitrogênio que dominam a superfície de Plutão”, explicou Sahu. 🔭A detecção só foi possível com o espectrógrafo de origens cósmicas do Hubble, que analisa a luz ultravioleta para estudar galáxias, estrelas e sistemas planetários. Segundo os pesquisadores, a quantidade de material que cai sobre a anã branca equivale a uma baleia-azul adulta despencando nela a cada segundo, em um processo que dura pelo menos 13 anos. Água e vida A descoberta reforça a ideia de que corpos gelados semelhantes aos do nosso sistema solar também existem em outros sistemas. “No nosso sistema solar, acredita-se que cometas e outros corpos gelados desempenharam papel crucial ao levar água para os planetas rochosos, incluindo a Terra. Além da água, também trouxeram compostos voláteis e orgânicos, como carbono e enxofre, essenciais para a química prebiótica e, em última instância, para o surgimento da vida”, disse Sahu. Ela acrescentou: “De forma semelhante, em outros sistemas planetários, corpos ricos em água podem ser vetores desses elementos fundamentais, contribuindo para ambientes habitáveis. Detectar esses corpos em torno de outras estrelas é a confirmação observacional de que esses reservatórios existem além do nosso sistema solar.” Telescópio Espacial Hubble completa 35 anos